Ana Francisca
PontiLetras (.P) – Como surgiu a ideia de transformar as suas memórias e histórias familiares num livro?
José Mário Sousa (JMS) – Eu pratico Slot, um desporto/hobby que envolve corridas de carros miniatura na escala 1/24, e que, nos últimos três anos, me levou a viajar por vários países da Europa para participar em eventos. Como normalmente viajo sozinho, tenho bastante tempo livre passado entre aeroportos e hotéis. Foi nesse contexto que decidi começar a escrever sobre as memórias da minha infância.
Inicialmente, escrevia pequenos textos que publicava num grupo de Facebook. O interesse manifestado nos gostos e comentários surpreendeu-me, o que me incentivou a continuar. Com o tempo, várias pessoas começaram a dizer-me que eu devia reunir essas histórias num pequeno livro. Percebi então que a temática poderia interessar a muita gente, especialmente àqueles que viveram os tempos áureos da Pensão Albano. Depois de refletir com a minha família, decidi avançar com a publicação.
.P – O livro aborda com grande detalhe as vivências na Pensão Albano. Que impacto tiveram essas memórias na construção da sua identidade e na decisão de eternizá-las num livro?
JMS – Toda a minha vida, tanto a nível pessoal como profissional, foi profundamente influenciada pelos anos que passei na Pensão Albano. Apesar de ser muito jovem, aquela grande casa foi uma verdadeira escola de vida, onde aprendi a importância das relações humanas – fosse com a família, os funcionários ou os clientes.
O que mais me motivou a escrever este livro foi a vontade de deixar um testemunho fidedigno e positivo sobre os meus familiares. Foram, sem dúvida, pessoas empreendedoras, que se destacaram pelo seu profissionalismo e pelo espírito de bem servir e bem receber.
.P – Sendo empresário e não escritor de profissão, como foi a experiência de escrever o seu primeiro livro?
JMS – A minha atividade profissional ocupa grande parte do meu tempo e, na verdade, já não escrevia desde os tempos de estudante. No entanto, sempre gostei de escrever, por isso foi um prazer regressar à escrita.
.P – Contou com o apoio de alguém, de familiares, amigos ou profissionais, durante a escrita e publicação do livro?
JMS – Sim, tive o apoio dos meus filhos, que me ajudaram na revisão de alguns detalhes, sobretudo na pontuação. O meu amigo José António Silva escreveu o prefácio e o historiador Carlos Ferreira elaborou o texto de enquadramento histórico da Pensão Albano. A minha prima, Eduarda Cunha, contribuiu com o texto “Pensão Albano – Um Banquete de Memórias”, que foi essencial para recuperar os sabores e a atmosfera daqueles tempos. Além disso, tive todo o apoio da editora PontiLetras, que me ajudou em todas as fases do processo de edição.
.P – A Pensão Albano teve um papel central na sua infância e na história de Felgueiras. Que significado teve este espaço para si e para a comunidade local?
JMS – A Pensão Albano marcou a minha vida a todos os níveis, especialmente pelos valores que me foram transmitidos. Para a comunidade local, esta casa foi um dos estabelecimentos comerciais mais emblemáticos da região. Durante décadas, recebeu clientes de todo o país, que procuravam não só a sua gastronomia de excelência, mas também o atendimento diferenciado.
.P – A cozinha e a gastronomia estão muito presentes na narrativa. Que importância teve o Pudim Abade de Priscos na sua vida pessoal e no legado da família?
JMS – O Pudim Abade de Priscos é um dos doces mais conhecidos e apreciados em Portugal. A Casa Rosa Sousa teve a honra de vencer o prémio de melhor Pudim Abade de Priscos, atribuído pela Confraria Gastronómica do Abade num concurso realizado em Braga. Foi um momento muito especial na minha vida e para a nossa empresa. Ver a minha mãe, Rosa Sousa, subir ao palco do Teatro Circo para receber o primeiro prémio foi uma emoção inesquecível.
.P – Além do valor histórico e emocional, o livro também parece ser um tributo à gastronomia e à tradição culinária da sua família. Alguma vez considerou expandir este tema para um projeto paralelo, como um livro de receitas?
JMS – Sim, é uma possibilidade. Talvez no futuro possa escrever um livro que inclua mais receitas e que explore outras vertentes da gastronomia. No entanto, neste momento, estou totalmente focado no desenvolvimento da Casa Rosa Sousa, que abrange várias áreas – desde o fabrico e distribuição de produtos para restaurantes e supermercados, até à nossa loja de doces tradicionais, cafeteria e alojamento local.
.P – Que reações tem recebido dos leitores, especialmente daqueles que têm ligações à Pensão Albano ou à região de Felgueiras?
JMS – As reações têm sido muito positivas. Muitos leitores dizem que, ao ler o livro, sentem-se transportados no tempo e recordam com nostalgia a excelência dos produtos e serviços da Pensão Albano.
.P – Agora que o livro está publicado, que mensagem principal gostaria que os leitores retirassem desta obra?
JMS – Tive uma infância muito feliz, quase toda passada na Pensão Albano. O meu grande objetivo ao escrever este livro foi homenagear os meus avós, fundadores da Pensão Albano, bem como os seus filhos, que deram continuidade ao projeto. A Pensão Albano foi, durante muitas décadas, uma referência gastronómica e cultural da região, e espero que este livro contribua para preservar essa memória.
.P – Recomendaria esta experiência de escrever e publicar um livro a outras pessoas?
JMS – Nunca imaginei que um dia escreveria um livro, mas, agora que o fiz, sinto-me extremamente feliz por ter concretizado este projeto. Escrevi com autenticidade, emoção e carinho sobre a história da minha família, a minha vida e o meu percurso profissional. Por isso, recomendo vivamente esta experiência a quem tem histórias para contar. É um processo extremamente gratificante e enriquecedor.
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