Entrevista a José António Silva, autor de “Felgueiras em Bilhete Postal Ilustrado”

Por ocasião do lançamento da 2ª edição do livro “Felgueiras em Bilhete Postal Ilustrado”, entrevistamos o autor José António Silva, para conhecermos melhor a obra e explorarmos a sua paixão e o seu compromisso com a preservação da história local.

FELGUEIRAS EM BILHETE POSTAL ILUSTRADO para além de dar continuidade ao trabalho iniciado há 24 anos com “Felgueiras – Rostos do Tempo”, proporciona um viagem envolvente e visual ao concelho, desde o início do século passado até aos anos 70, constituindo um importante subsídio para a história urbana da região.  

PontiLetras (.P) – José António Silva, como surgiu a ideia de publicar um novo livro dedicado aos postais ilustrados de Felgueiras, 24 anos após a publicação de “Felgueiras – Rostos do Tempo”?

José António Silva (JAS) – A ideia era já antiga e tem que ver com a “natural afeiçom” que as pessoas têm pela sua terra, conceito mencionado por Fernão Lopes no prólogo da Crónica de D. João I, e de que não sou excepção. Na realidade, não obstante viver longe de Felgueiras desde 1987, sempre fui acompanhando o seu desenvolvimento, e, após a publicação de “Felgueiras – Rostos do Tempo” fui continuando a coleccionar postais ilustrados e outros papéis relacionados com o concelho, que consolidaram a ideia de preparar uma nova publicação, mas com um propósito diverso do da primeira publicação.

.P – Ao longo dos últimos 24 anos desde a publicação do livro “Felgueiras – Rostos do Tempo”, como foi o processo de recolha de postais e documentos para esta nova obra? Quais foram os principais desafios que encontrou durante esse processo de pesquisa e recolha?

JAS – O processo de recolha foi praticamente o mesmo: muitas visitas a alfarrabistas e casas de cartofilia espalhadas pelo país, especialmente Porto e Lisboa, para além da consulta quase diária a sites da especialidade na Internet. Esse procedimento foi e é de tal forma sistemático que quando aparece algo relacionado com Felgueiras, sou imediatamente contactado para saberem se estou interessado. Relativamente aos “desafios”de que fala, o mais importante, sem sombra de dúvida, foi o da aprendizagem sobre o estudo do objecto postal. Aprendi muitíssimo sobre a matéria e passei a ver o Bilhete Postal Ilustrado com outros olhos.

.P – Como é que os postais ilustrados contribuem para a compreensão da história local e para a preservação da memória dos locais e das pessoas? Pode partilhar algum postal ou documento em particular que considere emblemático para a história de Felgueiras, e explicar a sua importância?

JAS – Os postais ilustrados contêm um enorme manancial de informação e têm, indiscutivelmente, um grande valor documental, contribuindo de forma extraordinária para a história urbana das localidades. É inegável o seu interesse para quem quer compreender melhor a “alma” dos lugares e a forma de pensar das pessoas que preenchiam esses espaços à data dos registos fotográficos.

Há muitos postais e documentos interessantes, mas os exemplos que neste momento me vêm à ideia são os do postal nº 15 “Felgueiras – Largo da República – Nascente” e o da Petição dirigida à Câmara Municipal.

A observação atenta desse postal, em que é possível verificar a falta de pavimentação condigna do espaço, permite perceber uma das reivindicações da petição” Melhoramentos da Villa de Felgueiras” dirigida à Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Felgueiras, em 1911, para além de verificar (são poucos os que o identificam) que o Tanque das Colherezinhas lá se encontra, antes de ter sido mudado para a Praça Alexandre Herculano.

.P – O livro aborda uma variedade de temas, desde arquitetura e sociedade até à história comercial e industrial de Felgueiras. Como é que esses diferentes aspetos foram integrados na obra e que impacto espera que tenham na compreensão global do leitor sobre o concelho?

JAS – Sim, os Bilhetes Postais Ilustrados abrangem um quase infindável número de temáticas. Os primeiros que apareceram eram os postais designados “topográficos” e apresentavam Vistas gerais e ou trechos de Ruas, Largos, Praças, etc., mas rapidamente incluíram temas como arqitectura, religião, usos e costumes, feiras e romarias, etc.. A partir de determinada altura, percebendo-se o seu potencial, foram aproveitados pela publicidade, pela propaganda política e muito mais. É interessante perceber que no caso de Felgueiras temos em postal áreas como: Ensino – Colégio de Santa Quitéria e Externato Infante D. Henrique; Gastronomia – Pão-de-Ló de Margaride, Grande Hotel de Santa Quitéria e Pensão Albano; Arquitectura – Câmara Municipal, Teatro Fonseca Moreira e muitas casas e Solares; Saúde – Sanatório do Seixoso e Hospital Agostinho Ribeiro; Arquitectura Religiosa (Arte Sacra)- Mosteiro de Pombeiro, Santuário de Santa Quitéria entre muitas outras igrejas; Romarias – Procissão de S. Pedro e N. Srª das Vitórias; Feiras – Feira da Lixa, etc., etc.

Parece, pois, ser indiscutível que uma observação atenta e uma leitura cabal do livro permitirão ao leitor ficar com uma ideia quase completa do perfil do concelho nas 7 primeiras décadas do séc. XX.

.P – Além dos postais ilustrados, o livro também inclui “ephemera”, como sobrescritos e faturas, que ajudam a contextualizar a história comercial e industrial do concelho. Como é que esses documentos adicionais complementam a narrativa e enriquecem a compreensão da história de Felgueiras?

JAS – Bem, a ideia da inclusão de outros exemplares de ephemera para além dos postais, creio ser pioneira em Portugal. Eu não tenho conhecimento de nenhuma outra obra em que tal tenha sido feito. À medida que fui coleccionando, apercebi-me através da sua análise que embora Felgueiras fosse um concelho cuja economia assentava essencialmente na agricultura, desde cedo evidenciou uma interessante vocação industrial, permitindo concluir que iniciou com a indústria têxtil, sendo ultrapassada pela do calçado apenas em meados da década de 50. Achei, por isso mesmo, que a inclusão de tais papéis constituiria um ponto de especial interesse.

.P – Ao longo da sua carreira como autor e investigador, como surgiu e evoluiu a sua abordagem ao tema dos postais ilustrados?

JAS – Tal como referi anteriormente, para além de ser coleccionador de Bilhetes Postais Ilustrados, ao longo dos anos evolui, através do estudo e muita aprendizagem, para cartofilista, significando isso que aprendi sobre como retirar toda a informação possível de um postal, sobre como estudar um postal.

.P – “Felgueiras em Bilhete Postal Ilustrado” foi publicado no 130ª aniversário do 1º Postal Ilustrado a circular em Portugal. Pode falar-nos um pouco da história fascinante do postal ilustrado em Portugal?

JAS – É verdade! Foi uma curiosa coincidência. De facto, o primeiro postal ilustrado emitido em Portugal aconteceu em 1894, no V Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique, que curiosamente deu nome ao Externato de Felgueiras. O livro contém uma breve história do Bilhete Postal Ilustrado que inicia o leitor interessado, mas posso dizer que Portugal esperou cerca de 14 anos para repetir o que fez a Alemanha em 1880 (Data da emissão do 1º Postal Ilustrado). A partir de 1894 a emissão de postais ilustrados em Portugal ombreou com a de outros países, tendo os portugueses aderido com entusiasmo à “novidade”: em 1906, circularam em Portugal mais de um milhão de postais, o que é significativo. Nessa altura também a propaganda política usou o postal ilustrado, que se estendeu desde a Monarquia ao Estado Novo, passando pela 1º República.

.P – Considerando o sucesso e a riqueza de informação apresentada em “Felgueiras em Bilhete Postal Ilustrado”, já ponderou a possibilidade de uma terceira publicação sobre o tema no futuro? Se sim, que áreas ou temas adicionais gostaria de explorar?

JAS – Como continuo a coleccionar, quem sabe se num futuro poderá haver matéria que justifique uma outra edição. Logo se verá.



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